sábado, 3 de maio de 2008

A Geleira

Certa feita eu estava conversando com um amigo e ele me contou sobre uma colega de serviço que nunca era vista com alguém. De início não me assustei, mas ele continuou:

- Não é pelo fato de nunca termos a visto com alguém, mas ela nunca fala sobre namorado, amor e, se mencionamos o assunto relacionamento, ela disfarça e se afasta!

Fiquei curioso perante tal relato, e como sou um observador e estudioso do comportamento feminino, pedi ao meu amigo para me apresentar a essa colega. Depois de muitas tentativas frustradas de nos encontrarmos, os três, em algum lugar que não fosse no trabalho deles, combinamos de espera-la no final do expediente. Ela obviamente não sabia, ou certamente teria chamado a polícia ou fugido, sei lá, mas quando nos encontramos compartilhei o espanto de meu amigo. Ela era uma mulher lindíssima, morena, seus cabelos negros cortados com uma despretensiosa franjinha, seus olhos azuis como o céu de primavera, era alta, esguia e bem feita. Não tinha nenhum perfil de ‘mulher mal-amada’. Fomos devidamente apresentados e, depois de muito insistir, fomos a um Café na Cidade Baixa. Conversamos bastante, ou melhor, eu conversei. Não sou nenhum conquistador, Dom Juan ou algum tipo de amante latino. Como já disse sou um apreciador, um estudioso, um lítero do sexo oposto, sempre apreciei os trejeitos e a linguagem corporal das mulheres. A maioria tem uma maneira de dizer o que gosta somente com simples balançar de cabelos ou com o formato do riso, mas essa morena não se encaixava em nenhum perfil pré-existente! Depois de muito tentar desisti de lhe “descriptografar”! Era mais fácil entender por que o ronaldinho tinha entrado naquela furada com os travestis! Alias, esse seria um casal bem interessante: “uma mulher que não demonstrava sentimento algum com um homem que já sentiu todos os sentimentos!”. Mas por um lado foi bom esse ‘observatório’, pelo menos descobri mais um perfil do intelecto feminino: “a bela de gelo” foi como a nomeei! Basta descobrir como derreter este tipo de geleira.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Conselhos

Então se abriu a porta e vi a sombra de sua silhueta adentrando o salão. O salão estava escuro e não se enxergava muita coisa da decoração de dia das bruxas alem de algumas abóboras iluminadas e alguns morcegos, sobrevoando nossas cabeças, iluminados pelos canhões de luz. Mas quando ela abriu a porta e começou a caminhar na direção do centro da pista de dança, parecia que aquela pequena e cinzenta sala ganhará proporções gigantescas e irradiava uma forte luz. Tudo estava claro, tudo estava visível agora. Nós éramos colegas a mais ou menos um ano e nos conhecíamos bem. Pra falar a verdade éramos amigos. Eh, amigos sabe?De rir, conversar, falar mal e contar problemas. Na verdade eu só escutava os dela. Eu nunca tive jeito pra me abrir, contar minhas angústias. Mas pra escutar eu tinha, tanto que eu acho que virei seu confidente. Cara, nós não nos desgrudávamos na aula. Até surgiu um papo de estarmos ficando e tal, mas eram só boatos.Os outros garotos que me viam abraçando-a, beijando-a e acariciando-a morriam de inveja:

-Olha lá o veadinho agarrado na irmã!

-deve estar pedindo conselho pra apegar homem, aquela bicha!-Comentavam. Mas eu nunca dei bola. Gostava de estar com ela, junto dela. Sentia-me bem. E nunca rolou nada, nem um beijo, ficada, agarrão mais sério. Nada. Nem por parte minha nem dela. Éramos amigos e assim bastava.

Mas quando ela entrou naquele salão, vestindo uma minissaia frisada branca, com uma meia três – quartos transparentes, salto alto e uma tomara-que-caia (“tomara que caia, tomara que caia!”) também branca, que deixava seu umbiguinho e um piercing de borboletinha aparecendo! Nossa! Todo aquele desejo, que inconsciente jazia hibernando dentro de meu peito, despertou como o deus nórdico Odin avançando sobre o gigante Atlas.

Do alto da escada ela também me avistou, sorriu e veio em minha direção. Meu coração pulava esfuziante de medo e desejo. E ela se veio linda, maravilhosa e inigualável. Seus olhos eram de um azul que nunca tinha visto antes. Um azul fraquinho igual aos frasquinhos de talco para bebê. Suas maçãs eram lisinhas, rosadas e suculentas. Fazia um beicinho, e que beicinho. Você lembra da propaganda em que a Aline Moraes falava “pudim de chocolate” fazendo beicinho de menina mimada? Se não se lembra amigo, sinto pena de você! Ela se aproximava mais e me fitava, e eu sorria. Chegou bem perto de mim e falou:

-Oi!

-E aí?

-Tudo bem.

-Ãham!

Silêncio sepulcral.

-Como tá a festa?- Ela perguntou.

-Mais ou menos. A recém cheguei!- Mentira. Eu praticamente havia aberto a festa.

-Tá fantasiada de quê?- Perguntei curioso.

- Adivinha!

Cara, ela toda de branco, com asinhas nas costas, naquele salto agulha, só podia ser anjo, ou melhor, anja, ou melhor ainda, diabinha! Só podia ser uma versão feminina de Lúcifer, o anjo caído. Anja, só pode ser anja. Vô de anja!

-Anjinha!- Falei

-Errou! Sou uma fada!

Putz! Fada? Caralho eu odiava fada, mas não ia perder essa chance.

- E essa fada realiza desejos?- Indaguei

-Uhum!- Respondeu balançando o rostinho.

- E quantos desejos eu tenho eu tenho direito?

- Só um!- Falou levantando o indicador.

- Só um? Que maldade!- perguntei fitando seu lindo dedinho.

- Uhum! Então escolhe bem e não desperdiça, ta?!

Essa era minha deixa, cara, essa era minha deixa. Ela queria tanto quanto eu. Seu olhar malicioso, suas respostas tão diretas quanto uma tacada do Tiger Woods, sua fantasia mínima que se resumia a um pedaço de pano e duas asas, seu salto que a deixava quase da minha altura... É hoje, pensei, é hoje! Finalmente depois de tanto tempo sendo o amigo conselheiro, o Sancho Pança companheiro, depois de tanto tempo aquele corpo ia ser meu. Aquelas mãos delicadas que pareciam nunca ter tocado nada sólido, aqueles seios firmes e determinados como duas bússolas que sempre apontavam a direção da investida, aquelas panturrilhas redondas e saborosas. Tudo aquilo seria meu!

- Vamos beber alguma coisa e ir pra um lugar mais tranqüilo?- Indaguei

- Sim!- Assentiu com a cabeça.

É hoje, pensei, é hoje... Peguei um Martini Branco, e ela só na água.

- Tu não bebe?

- Hoje não! Prefiro ficar sóbria!

É hoje, pensei, é hoje... Subimos pela escada dos fundos e fomos para um quarto no final do corredor do 2º andar. Cara, meu coração batia, disparava de nervosismo, mas tentei me mostrar calmo. Peguei sua mão e beijei levemente, ela sorriu, eu sabia que ela gostava. Conversamos um pouco sobre algo que não me lembro, estava mais entretido pensando qual seria a cor da sua lingerie (o que não ia demorar muito pra descobrir). Quando acabou meu Martini era a hora da investida. Fui pra cima, passei a mão de leve no seu rosto, escorreguei pro pescoço e agarrei sua nuca, trazendo-a de encontro a mim. Nisso ela arregalou os olhos e segurou minha mão, me empurrando na direção contraria a dela.

- O que você ia fazer?- Ela me perguntou assustada.

- O que a gente veio fazer aqui, ora!?- Respondi com admiração.

- Tu não ta achando que a gente vai ficar junto, né?!

- Como não? Tu me deu todas as indiretas! Tu me olhou o tempo inteiro com cara de “to afim”! Qual é o problema?

- Qual o problema? Cara de to afim? Tu é meu melhor amigo! Meu confidente, praticamente um irmão! E outra, eu sempre achei que tu fosse bicha!

Putz! Irmão? Irmão é foda, mas pensar que eu sou bicha? Acabou com todas as minhas chances e minhas esperanças. Seria melhor até se ela disse-se que não queria ou sei lá, mas irmão veado me deprimiu. Então todo o investimento em longo prazo, toda paciência escutando suas lamentações e lamúrias, todas as aulas matadas pra conversarmos, tudo isso era pra virar seu irmão? Cara fiquei maus. Levantei-me e fui pro bar beber! Beber sim, por que homem resolve as coisas ou na porrada ou no bar! Nunca mais conversei com ela. Nem olhar pra cara dela eu tive coragem.

Por isso amigo, lhe dou um conselho: “Nunca se aproxime demais de uma mulher!”. É real. Escute o que lhe digo “nunca se aproxime demais”. Vá, invista, conheça, mas nunca a ponto de escutar suas confidências. Deixe isso para a mãe dela ou amiga! Ataque-a antes que seja tarde, antes que seja íntimo demais. Se passar do ponto, esqueça e passa para a próxima.

Fica aqui meu conselho: “Amigo de mulher é cabeleireiro, e você não corta cabelos!”. Por isso ataque antes que seja ‘elevado’ a categoria de irmão.

sábado, 12 de abril de 2008

" Já é tarde..."

Resolveu entrar no bar e tomar uma cerveja, cumprimentar alguns amigos, escutar uma piada antiga e rir dos próprios problemas.Sentou e pediu "uma bem gelada, chefia", e seu vizinho, que sentou junto ao grupo, pediu outra.
Foi quando avistou, do outro lado da rua uma imagem incrível.Seus olhos quase se inundaram em pranto, tamanha a beleza da cena. Exatamente do outro lado da rua, na parte de dentro do quintal, uma figura tirou seu fôlego.Era Marcinha, filha de um amigo de infância.Olhava com tédio para a rua, esperando alguém passar e puxar uma conversa, ou algo acontecer para comentar no dia seguinte.
Marcinha tinha mudado.Crescera, e como crescera.De menina mirada e chorosa à mulher de fazer chorar quem a olhava.Estava escorada no portão.Seu rosto parecia um veludo, seus olhos pareciam ler pensamentos, e gostava do que lia.seus cabelos louros faiscavam um brilho intenso ao menor anúncio do sol.Seu nariz era perfeito, como todo nariz de mulher.Sua boca, de lábios pequenos e rosados, pareciam ganhar vida própria e lhe chamar para degustá-los.Suas mãos pareciam frágeis como porcelana recêm produzidas.Seus seios eram ideais, nem grandes e nem pequenos, nem duros e nem caídos.Típicos seios de adolescente.Seu quadril um passaporte só de ida para o inferno, com escala no divórcio e check-list no adultério.Me desculpe a expressão, mas a Marcinha não tinha quadril e sim verdadeiras "ancas" simetricamente desenhadas naquele corpo esguio.Suas coxas, ah aquelas coxas.Quantos acidentes de carro,quantos pescoços virados,quantos olhares de desejo e inveja,quantos braços roxos devido a olhares maliciosos rapidamente detectados pelas esposas.Até mesmo seu pé era perfeito.Unhas bem feitas e dedos proporcionais.Aquela guria não tinha sido parida no Femina ou no Moinhos de Vento, tinha sido desenhada pelo melhor desenhista, pintada com as melhores tintas, construída com o melhor material. Ficou imaginando o quanto seria bom descansar naquele colo, escutar aquela voz, beijar aquele rosto, abraçar aquelas costas, sentir seu cheiro, seu gosto, sua pele.Ficou imaginando como seria mergulhar naqueles seios,apertar aquelas coxas suculentas e sentir o calor daquele corpo."Ah aquele corpo".Imaginou tanto que nem percebeu que seu vizinho lhe chamava, sua cerveja esquentava e que já era tarde.Era hora de acordar e voltar para o seu amado lar, junto de sua amada esposa e seus amados filhos."Ah se fosse a algum tempo atrás...", pensou ele.Mas já era tarde, tarde demais.